quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sarau da Madrugada de Outubro - expressão cultural de energias

O Sarau da Madrugada deste mês foi um daqueles momentos que vêm para nos lembrar de que a qualidade supera sempre a quantidade. Não parecia, mas a casa estava cheia. Além dos capoeiristas, poetas, cantores, tocadores, atores e outros artistas, que sempre somam às nossas madrugadas, estavam presentes também energias especiais, que se manifestaram por meio das mais diversas expressões culturais. 

Quem foi sabe: a noite foi mágica. Mas, para quem não foi, o blog do Semente traz em texto e fotos um pouquinho da vibração que vivenciamos no dia 10 (sexta-feira). O álbum completo com as fotos do evento está no perfil dosarau no Facebook. Nosso próximo encontro está marcado para dia 7 de novembro, com uma programação de peso.



Roda de Capoeira

O Gunga soou para abrir os trabalhos ao toque de Angola. Toda Roda de Capoeira é uma nova história, onde cada personagem é essencial e cada trecho é único e imprevisível. A única certeza é a do aprendizado.

Alan Zas e Ferrán
Sob o comando do Contramestre Fábio Formigão, a roda contou com a presença dos alunos do núcleo Aeroporto/Interlagos do grupo Semente do Jogo de Angola e enriqueceu com a visita do Professor Castor, da Associação Cultural de Capuêra Angola Paraguassú (ACCAAP), do seu aluno Carlos, da Formiga e do Ferrán, um sementeiro que voltou para diminuir a nossa saudade.

Prof. Castor canta para o C.M. Formigão e seu aluno Cobra
"Vou-me embora, já é noite, eu não posso demorar"
Além dos capoeiristas, estavam presentes também os músicos Rafael Emílio e Ruan Veloso, que assistiram aos jogos e contribuíram com axé. 

"Tem dendê, tem dendê..."


Samba de Roda

Como é costume da casa, ao final da Roda de Capoeira, outra roda sagrada e enraizada na ancestralidade se inicia. 


Rafael Emílio e Nayla Carvalho

Muda a viola, mantêm-se os pandeiros e o atabaque. Mudam os trajes, permanecem o axé e a tradição.

Alan Zas e Cobra
É o Samba de Roda que se apresenta na cadência da batucada, no sapateado, que faz rodar as saias das moças, e no "amassar de barro", que mostra o balanço dos rapazes.

Helena Canto
E, assim como no sarau passado, o “Adeus, Adeus” ao final do samba foi mais um “até logo” que uma despedida...    


"Adeus, adeus..."


Sarau da Madrugada

Convidados especiais e microfones abertos


Ruan Veloso - Voz e Violão

Primeiro convidado especial da noite a se apresentar, o Ruan Veloso nos transportou do samba direto para o rock! 



Em formato acústico, o Renan fez a galera que estava sambando improvisar novos passos ao som de Elvis Presley, Beatles e até Legião Urbana.


O convite para participar do sarau veio de um fortuito encontro. O Contramestre Fábio Formigão o viu tocando em uma praça e logo o chamou para se apresentar na edição de outubro.


Depois de receber um sonoro “não” ao questionar se a galera queria ouvir uma “mais calminha”, a apresentação acabou com uma versão própria e agitada de ‘Pais e Filhos’, com direito a beat box e rap no meio.

OsRetirante - Poesia

É pelo impacto que a gente sabe quando OsRetirante vão mandar a deles. Os olhos procuram o poeta que entoa os primeiros versos, em alto e bom tom, mas o olhar logo se perde em meio à interação viva do grupo. 

                         

Mente e ouvidos no comando para captar cada mensagem. Poeta Amadio, Robert Holanda, (Ras)Davi Rocha, Jean Gonçalves e Gilmar Ribeiro (Casulo), vindos direto do Projeto Clamarte, que rolou na mesma noite. Dessa vez, eles vieram como convidados especiais, mas já são da casa há tempos.

                        

E os versos, ora falados, ora cantados, ecoaram: “violetas, rosas e margaridas resistem, apesar do árido da cidade cinza”, “quem jurou te proteger atira em você”, “se a palavra tem poder, então reflita nela”, “pela cidade, cheiro de rosa e jasmim”... Muitos deles reforçados pela galera, que sabia de cor. 

                           

Segundo o Robert, foi a primeira intervenção completa do grupo. Sobraram! Os meninos ainda participaram da apresentação seguinte, na instrumentação, e, na segunda entrada, chamaram Arterima, Mano Money’s, Ko Lombe e Samya Carvalho para somar.


Alexandre Mello & Gabriel de Almeida Prado

Os últimos convidados especiais da noite nos levaram de volta à música. O Alexandre Mello, amigo da casa e integrante do Poema Novo, se apresentou ao lado do seu primo Gabriel de Almeida Prado, um daqueles músicos de pouca idade e talento de monte.

Alexandre e Gabriel
No repertório, músicas autorais de harmonias e letras envolventes. Algumas do Alexandre, algumas em comum e boa parte delas compostas pelo Gabriel, que está para lançar seu primeiro disco, “A Língua e a Alma”.

Gabriel
“Anti-herói”, “Do Bolso”, “Infinito Labirinto”, “Escuridão Também Conduz”, “Canção de Guerra da Tribo dos Caras Daqui”, “Eu Quero Uma Notícia”, entre outras canções de uma bela leva de boas sacadas musicais.

Alexandre
Quem quiser ouvir (de novo, ou pela primeira vez) o trabalho do Gabriel, ele fará show com banda no dia 1º de novembro, na Casa das Rosas. No dia 6 de novembro, o Alexandre se apresentará pelo sarau Chama Poética no V Festival da Palavra UNESP Assis.



Apresentação de Capoeira - Teatro

O toque do Gunga silenciou a casa. Artisticamente caracterizados, o Contramestre Fábio Formigão e seus alunos Perninha e Henrique entraram no espaço tocando berimbau e pandeiros.

A Calça Preta Simone e à aluna Letícia assumiram os pandeiros enquanto o contramestre, com o Gunga em mãos, recitava (e representava) a ladainha “Dona Isabel”, do Mestre Toni Vargas.  A canção desconstrói o mito de que a famosa princesa libertou os negros escravizados.

“Abolição se fez bem antes e ainda há por se fazer agora, com a verdade da favela e não com a mentira da escola”, diz a letra que foi entoada por Formigão enquanto seus alunos faziam um jogo de Capoeira.

“Esse é um espaço que tem como base a Capoeira Angola. E, se hoje acontece o Sarau da Madrugada, é graças ao contramestre”, explicou o Calça Preta e mestre de cerimônias do sarau, Alan Zas.  “A Capoeira faz parte da história da minha vida como nordestino, baiano e negro”, completou o Formigão, que ainda deixou um convite para a galera do sarau: “apareçam e treinem”.


Microfones Abertos


Em meio à costumeira timidez inicial, a Formiga tomou a também costumeira atitude e mandou uma dela: "a criminalização do aborto não salva fetos. A criminalização do aborto mata mulheres"


A Flávia Rosa cantou "Zumbi", de Jorge Ben Jor, acompanhada pelo coro


O Cocada, aluno do Mestre Limãozinho, cantou uma chula de João do Boi para falar da seca: "meu Santo Antônio, eu quero água, quero água pra eu beber"



A Graciana Camacho leu dois poemas do livro 'Mulheres', de Eduardo Galeano


O Tiago Morais cogitou falar de eleições, mas decidiu mandar "uma mais positiva", sobre a natureza, "para manter a energia" 


O Mano Money's cantou um RAP: "a beleza de sentir, de gastar sua sinceridade"


A Grazi mandou um som sobre a favela, que "sorri sem ter porquê" e depois mostrou uma música de Capoeira que ela compôs 


O Bibo Quesada, organizador do Sarau do Vinilfez uma dele e convidou a galera para a edição de outubro, que rolou no dia 16


O Luiz Paulo representou o Semblantes e mandou uma também


O David veio direto do Clamarte e recitou a música "A Cidade", de Chico Science


A Débora Marçal lembrou de 'Sexo e as Negas' e dedicou à Elisa Lucinda, que defendeu a série, uma poesia da própria poetisa: "todo mundo erra e acho que ela está um pouco confusa. Eu vou lembrar quem ela é...", disse antes de mandar "Lua Nova Demais"


A Carmem recitou "O Grito", de Jenyffer Nascimento. A poesia integra o livro "Terra Fértil", que será lançado no dia 30 deste mês, na Ação Educativa, e no dia 7 de novembro, no Sarau da Madrugada!


A Elaine, do Aloha Açaí, cantou "Oração", de Aureliah Milagres, para lembrar a seca que estamos vivendo em São Paulo


Figurinista da Capulanas Cia de Arte Negra, a Shirley Rosa recitou e depois deu um show à parte dançando


O Vitor chegou com as Capulanas. Estava tímido, mas cantou bonito para o sarau ver


O Jefferson Santana atendeu aos gritos de "perigo!" e mando uns versos piriguistas de seu livro "Pétalas e Pedradas"


RasDavi - "mãe África, espírito de luta, mãe África, uma nova dimensão"


O Márcio aproveitou o tema da falta d'água e recitou uma dele, "Céu de Sangue", com um trecho de "Asa Branca"


A Ko Lombe rimou amor em francês para a sua "írma" Samya, que retribuiu e ainda mandou um RAP próprio


O Shidon foi de Bukowski: "há um pássaro azul no meu coração que quer sair"


Com os contramestres Toicinho e Pingo na casa, o Samba de Roda, que chegou a se despedir no "Adeus, Adeus", voltou naturalmente


E ainda contou com Neide Nell (foto) e Helena nos vocais


Samya e David no Samba de Roda


E, como já virou costume, do Samba de Roda fomos para o Afoxé 



Dançamos de frente para o Pelourinho, pintado na parede, e nossa madrugada terminou como a noite havia começado: com a casa cheia de energias boas, prontas para contagiar capoeiristas, poetas, músicos, sambadeiras, atores... esse povo que manifesta arte, sabe?

 Dia 7 de novembro tem mais! Até lá, notívagos!  

Veja mais fotos do sarau de outubro: