Sob a coordenação do Contramestre Fábio Formigão, há dois anos o
espaço cultural Olorum, do núcleo Aeroporto/Interlagos do grupo de Capoeira Sementedo Jogo de Angola, iniciou um projeto que viria a se tornar uma verdadeira
família. E, como diz a canção, “família é sintonia”. Os laços de energia foram se estreitando a
cada madrugada e a cada entrega dos poetas, cantores, tocadores, contadores de
história, fotógrafos, pintores, dançarinos, atores, entre outros, que passaram
pela casa. Com as palavras “cultura, pluralidade e resistência” estampadas na
camisa e na identidade do sarau, a festa de aniversário honrou o lema e
celebrou cada um desses elementos. O próximo já rola no dia 10 de outubro. Bora madrugar junto de novo?
Roda de Capoeira
A noite começou com axé e visitas ilustres na Roda de
Capoeira. Womualy, Tubaína, Celso, Pati, Formiga, Rafael (rs), Jarrona e outros
camaradas. Quando a visita é de casa, as energias mais que se somam, elas se
multiplicam. Cada um deixou um pouquinho do seu axé jogando, tocando, cantando,
e levou um pouquinho dele consigo, além de todos os aprendizados que cada roda
traz para os capoeiristas.
Contramestre Fábio Formigão |
Chamada... |
Camaradas na bateria |
Samba de Roda
“Nazaré, Nazaré, o povo do samba chegou”. E boa parte veio
direto do Grajaú, chegando para completar a roda. Samba sozinho, samba de dupla, samba miudinho
e o resto da galera foi aparecendo aos poucos para somar. O Samba de Roda é tradição, herança antiga dos mais velhos, e cativa quem se propõe a apreciar. Quando chegamos ao ‘Adeus, adeus’, a viola e a percussão já tinham contagiado os pés sãos de poetas, músicos, dançarinos, atores... Já estava no ponto para o sarau começar.
Sarau da Madrugada
Convidados especiais e microfones abertos
Convidados especiais e microfones abertos
Thiago Peixoto - Poesia
Primeiro convidado especial da noite a se apresentar, o Thiago Pei...xoto fez o lançamento do livro de poesia ‘Embrionários Versos Revolucionários’. “Sempre que eu venho é uma noite especial”, disse ele sobre o sarau. Sobre a obra, o poeta explicou: “são versos embrionários que, de certa forma, revolucionaram a minha vida”.
A apresentação, feita em diversas e certeiras entradas, começou com versos sobre o quanto ele acredita na poesia, tendo nela “quase uma religião”. Depois, o Thiago recitou ‘Revista à Veja’, mostrou uma poesia feita no dia do sarau, sobre a overdose política dos últimos dias, e, mais tarde, dedicou versos sobre a “dor de corno” para todos aqueles que se identificam com o tema.
Capulanas - Teatro
A casa silenciou para sentir a chegada de Adriana Paixão,
Carol Ewaci Rocha, Débora Marçal, Flávia Rosa, Priscila Preta e Rose de Oyá.
Vestidas de branco, as atrizes do grupo Capulanas Cia de Arte Negra entraram
cantando, já envoltas e nos envolvendo na energia de ‘Sangoma’. Em meio à canção, elas se
revezaram na interpretação de um texto de Cidinha da Silva, sobre a “voz negada”
às mulheres negras: “existe um silêncio imposto a nós...”.
A cena apresentada no Sarau da Madrugada é parte do
espetáculo teatral que está novamente em cartaz na Goma Capulanas. Até o dia 18
de outubro, a peça acontece todos os sábados, a partir das 20h . As músicas apresentadas
e a direção musical são da Naruna Costa e a direção geral é do Kleber Lourenço,
que não só acompanhou as meninas no sarau, como também sambou bonito na roda e recitou poesia.
Expresso Perifa – RAP
“Expresso Perifa chegando...”, anunciou o Goku, pedindo logo
para a galera ficar de pé. Terceiro convidado especial da noite a se apresentar,
o grupo se define em seu perfil no Facebook como um conjunto “formado por
pessoas comuns moradoras do Grajaú, crentes do poder transformador da arte”. Os
meninos mandaram sons de autoria própria e ainda abriram espaço para quem
quisesse somar: “se tiver rimador, é só chegar”.
O som fluiu com força e atitude. “Isso aqui é mágico!”. Mensagens
ritmadas enviadas às mentes e aos corpos de quem estava atento. Na despedida, ‘Não
Deixe o Samba Morrer’, a várias vozes. “Entramos com samba, vamos sair de samba”.
E saíram. Sob muitos gritos e aplausos.
Microfones abertos
Calça-preta do Semente do Jogo de Angola e mestre de
cerimônias do sarau, o Alan Zas abriu os trabalhos cantando ‘Berradêro’, de
Chico César, cujos versos foram recitados mais tarde pelo poeta Victor
Rodrigues. Na sequência, a Formiga mandou uma daquelas porradas necessárias: “sapatão
anticultura, sapatão antimachão, sapatão
é ação direta pela revolução”. A Ana Carolina assumiu o microfone para levar ‘Canto
de Oxum’ e força das mulheres seguiu presente com, os versos de Elisa Lucinda
sendo recitados: “há de se ter cautela com essa gente que menstrua. Imagine uma
cachoeira às avessas”.
Formiga |
Ana Carolina |
Alan Zas |
Jefferson Santana |
Rose de Oyá |
A Ana Carolina voltou, com ‘Despejo na Favela’, de Adoniram Barbosa. O Paulo H. Sant’anna, que já presenteia a gente sempre como ator e contador de histórias, resolveu ampliar o carinho e cantou ‘O Bem do Mar’, de Dorival Caymmi. O RasDavi retomou o microfone com versos fortes como a voz grave dele. O retirante Robert Holanda voltou mais tarde, com o ‘Samba da Vogal’.
A Priscila Preta trouxe um pouco dos “versos úmidos e tesos”
do livro ‘A Calimba e a Flauta’, feito em parceria com Allan da Rosa. O James Bantu mal pisou no espaço e o
microfone já se abriu para ele. Chegou cantando ´Preta Amor’, para a sua
companheira, Adriana Paixão. A Flávia Rosa e a Débora Marçal cantaram juntas ‘Minha
Dor’, de Naruna Costa. Depois ficou só a Débora, para recitar uma própria e
esquentar mais os ânimos.
Priscila Preta |
James Bantu |
Flávia Rosa e Débora Marçal |
Em meio a tantos presentes de aniversário para o Sarau da Madrugada,
uma surpresa: Bando de Teatro Olodum na casa. Em São Paulo para apresentar o
espetáculo ‘Cabaré da Rrrrraça’, o grupo teatral de Salvador estava
representado pelo ator Leno Sacramento, que fez do pandeiro trilha e parte da poesia que recitou (“o bolo é grande, mas nosso pedaço tá errado”), e pelo também ator Felipe
Soares, que trabalha na equipe da peça e mandou versos sobre a matança de
negras e negros e o “suicídio inconsciente do Brasil”.
Felipe Soares |
Leno Sacramento |
Leno Sacramento e Felipe Soares |
CM Fábio Formigão |
Orquestra de berimbaus |
Depois da apresentação do Expresso Perifa, ainda teve mais poesia. As irmãs Nayla e Samya Carvalho resolveram retomar a onda dos versos “úmidos e tesos”. A Samya contou com a memória do cérebro. A Nayla, com a do celular. Placar final: a tecnologia foi derrotada com classe pelos versos memorizados de 'Anjo Negro'.
Samya 1 x 0 Nayla |
Liliane sementeira |
Ana e Raul (na barriga), sementeiros |
Para fechar a noite, um momento de homenagens.
Agradecimentos merecidos a pessoas que têm nos ajudado a construir o que temos
hoje. Quem ganhou lembrancinha (arte feita em lápis pela Nayla), já sabe que ganhou e soube ali na
hora o motivo. Mas, como foi tarde e não sobrou lápis para guardar para quem
não estava no momento, vale uma menção honrosa aos saraus e
coletivos poéticos irmãos que sempre somam: Sarau do Vinil, Sarau da Ademar,
Sarau do Grajaú, Sobrenome Liberdade, Poetas Ambulantes e Sarasta (que ninguém
esquece!).
Agradecemos a presença de cada um na edição de aniversário e
em diversas outras madrugadas. É sempre um prazer amanhecer com vocês! Dia 10 de outubro tem mais. Até lá, notívagos!
Mais fotos do sarau de aniversário:
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