quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Sarau da Madrugada de Setembro – 2 anos de noites culturais

Sob a coordenação do Contramestre Fábio Formigão, há dois anos o espaço cultural Olorum, do núcleo Aeroporto/Interlagos do grupo de Capoeira Sementedo Jogo de Angola, iniciou um projeto que viria a se tornar uma verdadeira família. E, como diz a canção, “família é sintonia”. Os laços de energia foram se estreitando a cada madrugada e a cada entrega dos poetas, cantores, tocadores, contadores de história, fotógrafos, pintores, dançarinos, atores, entre outros, que passaram pela casa. Com as palavras “cultura, pluralidade e resistência” estampadas na camisa e na identidade do sarau, a festa de aniversário honrou o lema e celebrou cada um desses elementos. O próximo já rola no dia 10 de outubro. Bora madrugar junto de novo? 


Roda de Capoeira

A noite começou com axé e visitas ilustres na Roda de Capoeira. Womualy, Tubaína, Celso, Pati, Formiga, Rafael (rs), Jarrona e outros camaradas. Quando a visita é de casa, as energias mais que se somam, elas se multiplicam. Cada um deixou um pouquinho do seu axé jogando, tocando, cantando, e levou um pouquinho dele consigo, além de todos os aprendizados que cada roda traz para os capoeiristas.


Contramestre Fábio Formigão

Chamada... 
Camaradas na bateria


Samba de Roda

“Nazaré, Nazaré, o povo do samba chegou”. E boa parte veio direto do Grajaú, chegando para completar a roda. Samba sozinho, samba de dupla, samba miudinho e o resto da galera foi aparecendo aos poucos para somar. O Samba de Roda é tradição, herança antiga dos mais velhos, e cativa quem se propõe a apreciar. Quando chegamos ao ‘Adeus, adeus’, a viola e a percussão já tinham contagiado os pés sãos de poetas, músicos, dançarinos, atores... Já estava no ponto para o sarau começar.


Leandro, Alan e Rafael

Walter e Samya



Perninha


Sarau da Madrugada

Convidados especiais e microfones abertos


Thiago Peixoto - Poesia


Primeiro convidado especial da noite a se apresentar, o Thiago Pei...xoto fez o lançamento do livro de poesia ‘Embrionários Versos Revolucionários’. “Sempre que eu venho é uma noite especial”, disse ele sobre o sarau. Sobre a obra, o poeta explicou: “são versos embrionários que, de certa forma, revolucionaram a minha vida”.


A apresentação, feita em diversas e certeiras entradas, começou com versos sobre o quanto ele acredita na poesia, tendo nela “quase uma religião”. Depois, o Thiago recitou ‘Revista à Veja’, mostrou uma poesia feita no dia do sarau, sobre a overdose política dos últimos dias, e, mais tarde, dedicou versos sobre a “dor de corno” para todos aqueles que se identificam com o tema. 





Capulanas - Teatro

A casa silenciou para sentir a chegada de Adriana Paixão, Carol Ewaci Rocha, Débora Marçal, Flávia Rosa, Priscila Preta e Rose de Oyá. Vestidas de branco, as atrizes do grupo Capulanas Cia de Arte Negra entraram cantando, já envoltas e nos envolvendo na energia de ‘Sangoma’. Em meio à canção, elas se revezaram na interpretação de um texto de Cidinha da Silva, sobre a “voz negada” às mulheres negras: “existe um silêncio imposto a nós...”.



A cena apresentada no Sarau da Madrugada é parte do espetáculo teatral que está novamente em cartaz na Goma Capulanas. Até o dia 18 de outubro, a peça acontece todos os sábados, a partir das 20h . As músicas apresentadas e a direção musical são da Naruna Costa e a direção geral é do Kleber Lourenço, que não só acompanhou as meninas no sarau, como também sambou bonito na roda e recitou poesia.




Expresso Perifa – RAP

“Expresso Perifa chegando...”, anunciou o Goku, pedindo logo para a galera ficar de pé. Terceiro convidado especial da noite a se apresentar, o grupo se define em seu perfil no Facebook como um conjunto “formado por pessoas comuns moradoras do Grajaú, crentes do poder transformador da arte”. Os meninos mandaram sons de autoria própria e ainda abriram espaço para quem quisesse somar: “se tiver rimador, é só chegar”.



O som fluiu com força e atitude. “Isso aqui é mágico!”. Mensagens ritmadas enviadas às mentes e aos corpos de quem estava atento. Na despedida, ‘Não Deixe o Samba Morrer’, a várias vozes. “Entramos com samba, vamos sair de samba”. E saíram. Sob muitos gritos e aplausos.




Microfones abertos

Calça-preta do Semente do Jogo de Angola e mestre de cerimônias do sarau, o Alan Zas abriu os trabalhos cantando ‘Berradêro’, de Chico César, cujos versos foram recitados mais tarde pelo poeta Victor Rodrigues. Na sequência, a Formiga mandou uma daquelas porradas necessárias: “sapatão anticultura,  sapatão antimachão, sapatão é ação direta pela revolução”. A Ana Carolina assumiu o microfone para levar ‘Canto de Oxum’ e força das mulheres seguiu presente com, os versos de Elisa Lucinda sendo recitados: “há de se ter cautela com essa gente que menstrua. Imagine uma cachoeira às avessas”.


Formiga

Ana Carolina

Alan Zas
O poeta Jefferson Santana estava aniversariando também. Completou um ano de Sarau da Madrugada. “A primeira vez que vim aqui era aniversário do sarau”, explicou antes de mandar ‘Afrô’, do poeta EmersonAlcade.  A Jarrona, “provando e comprovando sua versatilidade”, recitou e cantou. Os Retirantes na casa (“pow! pow! pow!”). RasDavi, Jean Gonçalves e Robert Holanda versaram: “quem jurou te proteger atira em você”. A Elaine cantou ‘África’, do Filosofia Reggae, e a atriz Rose de Oyá também fez a sua.



Jefferson Santana
Rose de Oyá

A Ana Carolina voltou, com ‘Despejo na Favela’, de Adoniram Barbosa. O Paulo H. Sant’anna, que já presenteia a gente sempre como ator e contador de histórias, resolveu ampliar o carinho e cantou ‘O Bem do Mar’, de Dorival Caymmi. O RasDavi retomou o microfone com versos fortes como a voz grave dele. O retirante Robert Holanda voltou mais tarde, com o ‘Samba da Vogal’.


Paulo H. Sant'anna

RasDavi

A Priscila Preta trouxe um pouco dos “versos úmidos e tesos” do livro ‘A Calimba e a Flauta’, feito em parceria com Allan da Rosa.  O James Bantu mal pisou no espaço e o microfone já se abriu para ele. Chegou cantando ´Preta Amor’, para a sua companheira, Adriana Paixão. A Flávia Rosa e a Débora Marçal cantaram juntas ‘Minha Dor’, de Naruna Costa. Depois ficou só a Débora, para recitar uma própria e esquentar mais os ânimos.



Priscila Preta 

James Bantu

Flávia Rosa e Débora Marçal

Em meio a tantos presentes de aniversário para o Sarau da Madrugada, uma surpresa: Bando de Teatro Olodum na casa. Em São Paulo para apresentar o espetáculo ‘Cabaré da Rrrrraça’, o grupo teatral de Salvador estava representado pelo ator Leno Sacramento, que fez do pandeiro trilha e parte da poesia que recitou (“o bolo é grande, mas nosso pedaço tá errado”), e pelo também ator Felipe Soares, que trabalha na equipe da peça e mandou versos sobre a matança de negras e negros e o “suicídio inconsciente do Brasil”.


Felipe Soares

Leno Sacramento

Leno Sacramento e Felipe Soares
A madrugada é de sarau, mas a casa é da Capoeira. Para mostrar um pouco do trabalho que é desenvolvido de segunda-feira a sábado no espaço, o Contramestre Fábio Formigão liderou uma orquestra de berimbaus. Gunga, médios e violas (tocados pelo contramestre, pelos calças-pretas Alan Zas e Simone, e pelos alunos Perninha, José e Nayla) mostraram os principais toques utilizados pelo grupo Semente do Jogo de Angola.


CM Fábio Formigão


Orquestra de berimbaus



Depois da apresentação do Expresso Perifa, ainda teve mais poesia. As irmãs Nayla e Samya Carvalho resolveram retomar a onda dos versos “úmidos e tesos”. A Samya contou com a memória do cérebro. A Nayla, com a do celular. Placar final: a tecnologia foi derrotada com classe pelos versos memorizados de 'Anjo Negro'. 


Samya 1 x 0 Nayla
De volta à música, o Contramestre Formigão assumiu o microfone para fazer um afoxé que havia prometido às Capulanas.  Foi Ilê, foi Muzenza, foi Olodum... O dendê foi tanto que sobrou depois que o afoxé terminou. Aí caímos de volta no Samba de Roda...

Liliane sementeira

Ana e Raul (na barriga), sementeiros

Para fechar a noite, um momento de homenagens. Agradecimentos merecidos a pessoas que têm nos ajudado a construir o que temos hoje. Quem ganhou lembrancinha (arte feita em lápis pela Nayla), já sabe que ganhou e soube ali na hora o motivo. Mas, como foi tarde e não sobrou lápis para guardar para quem não estava no momento, vale uma menção honrosa aos saraus e coletivos poéticos irmãos que sempre somam: Sarau do Vinil, Sarau da Ademar, Sarau do Grajaú, Sobrenome Liberdade, Poetas Ambulantes e Sarasta (que ninguém esquece!). 




Agradecemos a presença de cada um na edição de aniversário e em diversas outras madrugadas. É sempre um prazer amanhecer com vocês!  Dia 10 de outubro tem mais. Até lá, notívagos!


Mais fotos do sarau de aniversário:









































































































































  












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