Semente do Jogo de Angola SP: Sarau da Madrugada de Agosto

A edição de agosto do Sarau da Madrugada começou na noite do dia 16, com a Roda de Capoeira comandada pelo Contramestre Fábio Formigão e terminou sob a luz do Sol do dia 17, no embalo do som comandado pelo DJ Buballo. Com a casa cheia de gente de casa, a sintonia fluiu com facilidade e inspirou as mais diversas expressões.

E não é que aquele negócio de “chega de saudade” foi levado a sério mesmo? Em meio a tanta energia, tanta ginga, tanta dança, tantos versos, tantos acordes e tantas vozes, os abraços de reencontro se fizeram em “milhões de abraços” e a saudade teve que sair de fininho. Ela volta, sempre volta, mas o Sarau da Madrugada de setembro está logo aí!

Roda de Capoeira

A Roda de Capoeira foi rica em aprendizados e trocas. O axé da roda, que acontece toda sexta-feira, a partir das 20h30, no núcleo Aeroporto/Interlagos do Grupo Semente do Jogo de Angola ganhou um tempero a mais com a presença de vários alunos do grupo Cordão de Ouro, do Mestre Suassuna. Os jogos se desenvolveram e os jogadores se corresponderam, cada um dentro das suas características, conforme a vontade do Gunga.

Foto: Sarau da Madrugada/Divulgação

Em meio a alegria, reinava um quê de tristeza pela despedida da Patrícia, aluna do grupo que embarcou em uma longa viagem. De qualquer forma, como a família não é de sangue, mas tem laços fortes de sintonia, ela levou um pouquinho de cada um e deixou um pouco dela também com a gente. Volte, viu, Pati?!

Samba de Roda

O samba floresceu antes mesmo de a viola soltar seus primeiros acordes. A roda foi se formando com as meninas da casa, se abrilhantou com as mulheres que vieram somar e ainda ganhou o reforço de elite do sapateado das pretas da Capulanas Cia de Arte Negra (Carmem Faustino, Priscila Preta e Flávia Rosa).

Foto: Sarau da Madrugada/Divulgação

Na bateria, os tocadores empenhados... Embalando o arrastar dos pés, o balançar dos quadris e até as palmas tímidas de quem não se arriscou a cair no samba. E o tempo passa, mas o Samba de Roda no Semente termina sempre do mesmo jeito: com vontade de não terminar.

Sarau da Madrugada

Ana Carolina – Samba de Raíz

Primeira convidada especial da noite, a Ana Carolina abriu os trabalhos com voz e violão. Integrante de um grupo que busca resgatar o samba paulista, ela falou sobre o quanto conhecemos pouco dele, em relação ao que sabemos sobre sambas do Rio de Janeiro. “É muito diferente! Tem outras raízes, outras origens...”, explicou.

Foto: Eveline Evangelista

O repertório começou com uma autoral, e seguiu com “A Flor E O Espinho”, “Regra Três”, “Falsa Baiana”, “Tiro ao Álvaro”, “Embala Eu”, “Do Lado Direito da Rua Direita”, “Que Pena”, “Subirusdoistiozin” e um sonoro “NÃO” para a pergunta: saideira?.

A despedida aconteceu com “Simples Desejo”, para terminar bem. E nem tinha como terminar mal. Ela sozinha já é um show inteiro, mas tocou acompanhada por Alan Zas no pandeiro (Calça Preta do Semente e um dos organizadores do sarau... Ele mereceu a rima!). Mais tarde, ela ainda ganhou reforço: Rafael Emílio, Tatu e Robsoul! Só podia terminar bem.

Lauro Pirata e Robsoul – RAP e Poesia

O Pirata foi o segundo convidado especial a entrar em cena, ao lado do Robsoul. Antes dos versos, as lembranças de tempos idos e muito presentes na memória, de quando os dois treinavam Capoeira com o Alan. Grajaú de ponta a ponta ali.

Foto: Eveline Evangelista

Estreante na casa, o Pirata apresentou o disco “Nós Somos Um”, trabalho que ele tem desenvolvido há dois anos. O rapper contou que ficou longe da música por questões de família e, por isso, o álbum acabou saindo com essa temática.

Ele abriu com “Viver”, falando de seus filhos gêmeos e da “vontade que todo pai de família tem de ver os filhos crescerem com saúde”. O repertório seguiu, intercalado com os versos recitados pelo Robsoul.

DJ Bubballo

Foto: Sarau da Madrugada/Div

A espera foi longa, mas ele mandou “Killing me Softly” logo de cara, para avisar que estava chegando. O terceiro convidado da noite era especial e era de casa. Àquela altura, todo mundo já estava no ponto certo para assumir a pista e não precisou muito para ela ferver.

Resgatando sons da antiga, o Bubballo conduziu a galera por diversos tempos e "cenários", de “16 Toneladas” a “She's A Maniac”. <Confissão> Não teremos um relato preciso desta parte porque aquela que vos escreve estava dançando </Confissão>. O fato é que o Sol encontrou a dança em pleno andamento quando chegou e flagrou gente na pista. A música parou só porque precisava, mas rendeu comentários positivos a semana seguinte toda!

Microfones Abertos

Ainda não se sabe se foi a timidez ou o frio que deixou o povo acanhado no início do sarau. Demorou para engatar, mas, quando engatou, foi logo com a Formiga. Pequena no tamanho e gigante na força, ela mandou “M e M”, de Conceição Evaristo, versando os “corpos iguais que se roçam”. Aí veio Tiago Morais, representando o Grajaú com “Poder x Potência”.

Foto: Eveline Evangelista

Na sequência, Bibo Quesada, organizador do Sarau do Vinil, com poesia e luz próprias, para enriquecer ainda mais a noite. E, como a família só anda colada, a Bruna Quesada não demorou a aparecer por ali com “Onze Fitas”, de Fátima Guedes. No embalo da poesia anterior, que citava Ogum, a Luana Andrade mostrou um pouco da realeza dela, cantando “Jorge da Capadócia”, de Jorge Ben Jor, para abrir nossos caminhos.

Foto: Eveline Evangelista

“Ele diz que o lugar dela é no tanque, mas não aguenta nem meia verdade esfregada na cara”. A Priscila Preta veio logo assim, com versos de Keila Rodrigues, seguida por Carmem Faustino, Jefferson Santana e Robsoul. A surpresa ficou por conta do Contramestre Fábio Formigão, que assumiu o microfone para recitar uma das Poesias Negreiras de Helber Ladislau. “Esse poema parece comigo e com a gente”.

Foto: Eveline Evangelista

Aí o Grajaú dominou! Foi Liliane Rodrigues, Ingrid (estreando no sarau com poesia própria), e o Lauro Pirata, que também mandou uma autoral “como todo bom grajauense”, como ele disse. A Nayla aproveitou a ausência do pai para recitar a poesia erótica que ela guardou no sarau de maio e a Carmem e a Priscila aproveitaram o “pretexto” para somar na pimenta. O Leonardo Queiroz (Tatu) veio rever a família e mandou a sua também.

Foto: Eveline Evangelista

Depois da Ana Carolina, só a voz doce da Vitória para acalmar os ânimos fervidos pelo samba, sem perder a cadência dele. Depois do Pirata, mais Grajaú! Tiago Morais de volta, com um rap sobre amizade, e o Robsoul com uma poesia dele, sobre crianças “pós-graduadas em TV”... “Crianças que viram gente morrer, viram de tudo, mas não viram ninguém dizer que o cabelo crespo delas é lindo”.

Foto: Eveline Evangelista

O Tatu voltou de violão na mão, com “Bingo da Sabará” e reforço da galera no refrão. Na sequência, a parceria com o Alan Zas para o povo forrozear ao som de “Numa Sala de Reboco” e “Táxi Lunar”. A Nayla voltou também, com uma poesia/canção própria e o sarau se fez em silêncio, só para ouvir o Ni Brisant ecoar... “Um abraço ainda é muito mais que todos os canhões do mundo juntos”. É, sim.

Foto: Sarau da Madrugada/Divulgação

O Thiago Kairu trouxe suas pretas palavras para engrandecer a noite. “Negros, nossos deuses não estão no céu, estão na África, estão na África”. A Pati Maiôta fez uma fala de despedida antes de viajar, mas garantiu que vai continuar caminhando junto. Ainda bem que a energia ignora fronteiras. Para fechar a última etapa de microfones abertos e abrir os caminhos para o DJ Buballoo, o Contramestre Fábio Formigão fez aquele afoxé que a galera curte e sente a maior falta quando não tem.

Próximo Encontro

Tudo isso para dizer como foi o sarau de agosto e para aumentar ainda mais as expectativas para o próximo encontro: nosso aniversário de dois anos!!! Estão todos convidados (alguns intimados) a vir somar no dia 5 de setembro, próxima sexta-feira, a partir das 20h30. A data é nobre e o time de convidados está pesado assim: Capulanas Cia de Arte Negra, Expresso Perifa (RAP) e Thiago PEI...xoto, com o lançamento do livro "Embrionários Versos Revolucionários". Vai esperar o próximo relato para saber como foi? Não, né? Então, até sexta!

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